Fabiano Luis Bueno Lopes
O manual do expedicionário brasileiro em Suez – distribuído em 1956 – trazia informações úteis para os soldados que se juntariam às tropas de paz da ONU em território egípcio: “Nosso Batalhão seguirá para o Oriente Médio.(...) Os povos de lá, na maioria, são árabes e israelenses. Eles têm muitas diferenças entre eles e infelizmente andaram se guerreando, ultimamente. Por causa do Canal de Suez, os ingleses e franceses entraram na briga também. A Força Internacional das Nações Unidas vai se colocar no meio de todos, para evitar combates.” Em sua maioria jovens em torno dos 20 anos, os soldados brasileiros tinham a responsabilidade de manter a paz em uma região extremamente conturbada, assolada por conflitos bélicos. De 1957 a 1967, foram dez anos de missão no calor escaldante do deserto, patrulhando as fronteiras entre tempestades de areia e minas terrestres. Hoje, poucos se lembram dos integrantes do Batalhão Suez, ganhadores do Prêmio Nobel da Paz em 1988, ao lado das Forças de Paz da ONU.
Além de Israel e Egito – os dois países envolvidos diretamente na guerra –, grandes potências mundiais, como Inglaterra, França, Estados Unidos e União Soviética, tinham interesses em jogo na região. A iminência de um conflito de grandes proporções levou a ONU a convocar a Assembléia Geral e o Conselho de Segurança para tentar controlar as atividades bélicas na região. A Primeira Força de Emergência das Nações Unidas (I FENU, ou, no original, UNEF I – First United Nation Emergency Force) seria formada em 1956.
Um dos motivos dos desentendimentos que gerariam o conflito foi a nacionalização do Canal de Suez pelo presidente egípcio Gamal Abdel Nasser em 1956, atitude que prejudicava os interesses franco-britânicos, além de restringir a navegação israelense pela passagem. O local é ponto estratégico para a economia mundial, fazendo a ligação marítima mais curta entre vários países da Ásia, da África e da Europa. Apoiado pela União Soviética, Nasser assumiu uma postura totalmente contrária às pretensões de várias nações ocidentais, entre elas os Estados Unidos. Em retaliação, França e Inglaterra formaram uma espécie de coalizão com Israel e atacaram o Egito.
Por tratar-se de um momento delicado da Guerra Fria – a disputa entre União Soviética e Estados Unidos pela liderança política e econômica mundial –, a ONU agiu prontamente para impedir maiores conseqüências entre os beligerantes: tropas de paz foram enviadas para a região. O Brasil foi um dos dez países convidados a participar da missão, juntamente com Canadá, Noruega, Finlândia, Índia, Colômbia, Dinamarca, Indochina, Suécia e Iugoslávia.
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